#3: e se a vida fosse um bolo?
Um texto que reflete o início das crises dos 20 e poucos anos
Talvez esse texto seja uma grande perda de tempo. Talvez esse texto seja mais um dos milhares dessa plataforma que abordam o começo da vida adulta e do como ela acaba com todo ser humano. Talvez eu não tenha criatividade o suficiente para achar um tema melhor que esse, já que estou com bloqueio criativo desde o final de janeiro. Até porque, esse tema na verdade é o que vem me cercado durante esse tempo, então tecnicamente só vou saber falar com propriedade se for sobre isso. A não ser que queiram ler sobre minha grande analogia de “e se a vida fosse um bolo?”. Mas podemos deixar para outra hora. Ou quem sabe, usar isso de alguma forma…
A famosa crise dos 20 e tantos e… bolo?
Eu ainda não fiz 20 anos e faltam 9 meses para isso. Mas por incrível que pareça, todos os questionamentos dessa fase já começaram a me derrubar. E derrubar feio.
A sociedade nega, diz que não, mas ela de fato parece ter um “roteiro” bem claro: com 20 anos, você deve ter tudo resolvido. Ou pelo menos parecer que tem. Você precisa ser maduro o suficiente, afinal, já é um adulto. Você precisa estar em uma faculdade, afinal, já é um adulto e precisa saber escolher um curso para o resto da vida. Você precisa ter um emprego, porque afinal, já é um adulto. Como assim você já tem 20 e tantos anos e ainda mora com seus pais? Que absurdo, afinal, você já é um adulto, precisa ter uma casa própria e se sustentar sozinho. E a lista poderia continuar.
Mas então, e se eu não tiver nada disso? Se minha vida não seguir esse roteiro perfeito? O que acontece então? Porque, sinceramente, às vezes parece que qualquer desvio dessa ‘trajetória ideal’ significa fracasso. Como se não estar onde esperam que eu esteja fosse sinônimo de estar perdido. Mas será que estou mesmo? E se eu não tiver respostas para todas as perguntas que surgem na minha mente? E se, por algum acaso, de alguma forma, elas nunca forem respondidas?
A verdade é que todo mundo parece estar correndo contra o tempo. Como se a vida fosse uma linha reta, e se você não chegar rápido, vai perder algo importante. Mas quem foi que decidiu esse tempo? Quem disse que aos 20 e poucos anos eu já preciso ter a vida toda organizada? E o mais engraçado: quem realmente tem?
Tudo bem que estamos saindo de uma realidade onde as mulheres realmente se casavam e tinham filhos nessa idade, o que dá a impressão de que tinham suas vidas feitas e prontas tão cedo. Mas será que saímos mesmo? Porque, de alguma forma, a cobrança continua. Talvez ela tenha mudado de forma, mas ainda está lá. Agora não é mais só sobre casar e ter filhos, mas sobre ter um diploma, um emprego estável, um plano de vida traçado. O que no fundo continua sendo a mesma coisa: um roteiro que esperam que a gente siga.
Dizem que a gente tem mais liberdade para escolher, que o mundo mudou. Mas será que mudou tanto assim? Se antes o caminho era imposto, agora ele é uma escolha — mas uma escolha cheia de pressão. O que você quer fazer? Onde quer estar em cinco anos? Como assim você ainda não sabe? Antes, as opções eram poucas, agora são tantas que o medo de errar se torna paralisante.
E se eu não souber o que quero fazer para o resto da vida? E se eu errar? Será que estou desperdiçando tempo ou só vivendo no meu próprio ritmo? Essas perguntas me atormentam, porque, por mais que eu tente ignorá-las, elas sempre voltam. Como se a qualquer momento eu precisasse dar uma resposta definitiva sobre quem eu sou e quem eu quero ser.
Talvez a grande verdade seja que ninguém realmente sabe. Que todo mundo está improvisando, tentando entender, tropeçando no caminho. Talvez o problema não seja estar perdido, mas acreditar que deveríamos ter tudo resolvido tão cedo.
E se a beleza estiver justamente no fato de não saber? De aceitar que a vida não é uma linha reta, mas sim um caminho cheio de curvas inesperadas? Talvez o erro esteja em achar que existe um roteiro certo para seguir, quando na verdade estamos todos improvisando, tentando fazer dar certo do nosso jeito.
No fim, talvez a vida seja realmente como um bolo. Patético, mas pense comigo. A gente começa com uma receita em mãos, cheia de regras e medidas exatas. Mas logo percebe que não tem todos os ingredientes. Então, substituímos um aqui, ajustamos outro ali, tentando fazer com que funcione. Às vezes, o bolo desanda, fica solado, e precisamos recomeçar. Outras vezes, sai algo completamente diferente do esperado, mas ainda assim, delicioso.
E talvez seja isso que torne tudo mais interessante. Porque, no fim das contas, ninguém tem a receita perfeita. Cada um está misturando o que tem, testando, errando e acertando. E tudo bem. A vida não precisa ser um bolo perfeito de confeitaria. Talvez ela seja mais como aquele bolo caseiro, meio torto, mas feito com o que temos no momento – e, no fim, isso já é o suficiente.
E o bolo de cenoura que fiz, em que me inspirei para essa analogia, estava gostoso mesmo. :)